Chegamos a Miguel Burnier e nos deparamos com uma escola em obras. A tinta ainda estava fresca e o muro recebia a última demão de amarelo, que serviria de base para o mural. Um detalhe interessante era a presença de retângulos em baixo relevo, conferindo ao trabalho um ar de galeria, com grandes painéis independentes.
Fomos recebidos pelo Luciano, engenheiro responsável pela obra, que abraçou o projeto, envolveu sua equipe e garantiu a participação de todos. Mesmo aqueles que não deixaram seus traços no muro participaram de alguma forma, seja com um olhar atento ou com um sorriso maroto que validava nossa presença.
O pequeno vilarejo, cercado por montanhas e árvores, guarda muitas riquezas na memória afetiva de seus habitantes.
O Sr. Edson nos contou com orgulho que estudou na escola e trabalhava na reforma. Com tanta ligação com o espaço, ele se empenhava em buscar nas lembranças elementos que ainda não estavam representados. Os alunos da escola participaram com empenho da pintura que trazia a fauna e a flora locais para o muro. O tema escolhido pela comunidade escolar reforçava a importância do patrimônio natural para a região.
Durante nossa passagem por Miguel Burnier, almoçamos na casa da Vaninha, que, além de presidente da banda local, serve a tradicional comida mineira em sua cozinha, preparada com capricho e servida à beira do fogão. Tem coisa melhor?
Depois do almoço, os mascotes do projeto Iphan+80, Clarinha e Miltinho, visitaram o “Empopelário”, um pequeno comércio, que além de funcionar como empório e papelaria, é o local onde os viajantes carimbam seus passaportes da Estrada Real. Clarinha e Miltinho fizeram história como os primeiros mamulengos a carimbarem seus passaportes.
Após tanta prosa boa, chegou a hora de entregar a pintura feita a muitas mãos para a comunidade de Miguel Burnier. Quem trouxe ainda mais alegria para esse momento foram quatro integrantes da Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus e Maria, a banda mais antiga de Miguel Burnier.
Recebemos a notícia de que a escola já foi inaugurada. Já com saudade no coração, desejamos que o mural seja motivo de inspiração para todos que por ali passarem, provocando reflexão acerca da importância e do cuidado que devemos ter com nossos bens patrimoniais, sejam materiais, imateriais, naturais ou afetivos.
Obrigada por tanto!
Texto: Lindaura Maia
Fotos de Sol Barreto e Amanda Salgado